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Muita informação

  • Foto do escritor: Taisa Echterhoff
    Taisa Echterhoff
  • 5 de jan.
  • 5 min de leitura

(ou 'Admitindo Que Quero Ser Escritora' parte II e em português)





No mundo das redes sociais é fácil encontrar milhares de outros millennials (e quem sabe uns boomers e GenZers também) que se sentem paralisados pela imensidão de informações com as quais são bombardeados diariamente. Se olharmos para trás e pensarmos nas dificuldades em que outras civilizações passaram para ter acesso à informação, à formação acadêmica, pesa em nós uma necessidade de ver tudo e saber de tudo. Quando penso que apenas monges copistas sabiam escrever e replicar publicações, ou em pessoas que não puderam ler livros pois um dia eles foram queimados em praça pública e banidos das livrarias, sinto que devo ler ao máximo, até os olhos cansarem. Em época de premiações da tv e do cinema, sinto que devo assistir a todos os lançamentos. Novamente, até os olhos cansarem. E quando esses olhos, que já estão cansados, no seu tempo de ócio ainda passeiam por mais telas - do smartphone, do tablet, do computador - fritando até pedirem por um colírio, até enviarem um sinal claro de que “está na hora de desligar”, sucumbimos a dormir. Não me entendam mal, eu amo dormir. Mas quando o FOMO se encontra com o YOLO e só você é responsável pelo seu horário e sua agenda é comum sentir uma vontade de postergar a hora de ir para cama. Só para ter os olhos fechados invadidos por mais imagens, as pálpebras se movendo rapidamente, a cabeça cheia de ideias pedindo para serem escritas - de preferência num caderno, com lápis e caneta, pois pegar o celular de novo seria um desastre. Cabeça cheia de ideias mas nenhuma segurança em executar nenhum projeto propriamente.


É a dor e a delícia do ser multitalentoso, que quer tudo e acaba por não ser nada. E para exemplificar o sentimento, uso minha própria experiência.Ouvi em algum lugar que deveríamos fazer um exercício de retorno às origens, da volta à infância, para tentar identificar em que áreas tínhamos aptidão natural, o que gostávamos genuinamente de fazer quando não haviam boletos a serem pagos ou preocupações com o sentido da vida. Eu me lembro de gostar de correr e brincar (não o suficiente para ser uma atleta, mas gostava de estar ao ar livre), gostava muito de conhecer novas pessoas e de conversar (isso demonstraria uma aptidão para Atendimento ao Público? Diplomacia? Ou para Psicologia quem sabe?) e gostava de brincar com Barbies, especialmente se havia um flyer ou prospecto de alguma imobiliária com as plantas baixas de apartamentos e condomínios à venda. Era uma capacidade de abstração incrível. Conseguia imaginar a minha personagem chegando em casa, caminhando pelos cômodos. Ela fazia algo de extraordinário? Não. Era apenas o simples ato de ser e estar no ambiente que me encantava. Para a Shonda Rhimes era brincar na dispensa com fazendo as latas de comida de personagem, para mim eram as plantas baixas dos apartamentos.


Eventualmente as histórias na minha cabeça cresceram a ponto de serem transcritas para o papel. A menina que falava, falava e falava - com a família, com os amiguinhos, consigo mesma - aprendeu a escrever, escrever e escrever. Mas a maioria das coisas que escrevia tinham motivo: era uma redação sobre um tópico que estava sendo estudado em sala de aula, era uma oficina de escrita com foco no vestibular. E assim a escrita passou a ser mais técnica, servindo sempre um propósito externo. Os caderninhos com notas, pensamentos pessoais, pequenos contos, ficavam escondidos quase como diários. 


Numa universidade (Jornalismo), desenvolveu-se gosto por fotografia, sociologia, diagramação, língua portuguesa. E a aptidão por falar, em especial em frente às câmeras, abriu espaço para uma carreira de 8 anos em televisão. Na outra universidade (Produção Cênica), que nem parecia obrigação, a alegria de criança foi revisitada, pois tudo tinha cara de experimentação, improvisação, maquiagem, circo, história da arte. Mas é engraçado como o mundo parece sempre valorizar aquilo que é “mais sério”, por isso, entre Jornalismo e Teatro, ficamos com Jornalismo. Que é maravilhoso! Novamente, não me entendam mal. O jornalismo me levou a lugares incríveis, a conhecer pessoas distintas, realidades com as quais eu nunca teria tido contato. É nobre, e hoje mais do que nunca necessário na sociedade.


Mas o que mais alguém com essa coletânea de habilidades pode fazer profissionalmente? Com algumas ferramentas, a exemplo de uma câmera na mão, pode filmar, fotografar, criar conteúdo para quem precisa. E aparentemente todo mundo precisa da sua imagem nas redes sociais. Aquelas mesmas redes sociais em que se encontram os millennials como eu, paralisados pela quantidade de informação.

Nelas que a mesma pessoa extrovertida, que não tinha medo de entrar no palco - mesmo sem nenhum talento para atuação - e nenhum medo de entrar em rede de televisão nacional ao vivo para informar um boletim de notícia, se sente julgada caso poste demais, compartilhe a vida privada demais. Afinal é importante manter a privacidade. Mas também é nessas redes sociais que encontra-se inspiração para produzir. O quê? Essa é a pergunta que tenho tentado responder.


Estou escrevendo. A prioridade mais iminente é finalizar uma dissertação de mestrado (a formatura já foi, falta defender). Na minha admiração por produções da Disney e da Pixar resolvi analisar como nascem histórias universais com cenários locais. Dentro da prática acadêmica de fatiar, fatiar e fatiar as análises, afunilando a pesquisa e limitando-a a um objeto de estudo, escolhi o filme de animação Encanto. Descobri uma disciplina chamada Folkcomunicação, de escola brasileira, e estou estudando como as culturas locais são representadas no entretenimento. Tudo isso só porque acho interessante? Sim. Mas também porque queria desvendar esse modus operandi, tentar reproduzir uma obra assim, quem sabe usando a cultura portuguesa como cenário? Quem sabe desenvolvendo a habilidade e a empatia de usar qualquer outra cultura como cenário?


O que me leva a outro projeto iniciado, mas ainda em curso. Uma obra transmidiática que envolverá a escrita de livros (8 para ser mais específica e ambiciosa), um longa-metragem de animação e uma série em live-action. É baseado nas lendas e mitos da origem da cidade de Lisboa. Uma história bem infanto-juvenil, fantástica. Até o momento todo esse universo mora só na minha cabeça, em alguns moodboards e páginas já escritas de alguns capítulos e alguns roteiros. E o caminho deve ser continuar a escrever, antes de pensar em rodar. Há muita pesquisa a ser feita para que esse conteúdo represente bem a cultura portuguesa e eu estou animada por descobrir mais sobre o folclore local.


Fora isso, há mais dois livros, parcialmente escritos. Um romance britânico todo regencial, bem descaradamente inspirado em Jane Austen e Julia Quinn, para o qual também sinto que preciso realizar mais pesquisas, seja com meticulosas análises de estrutura e conteúdo, seja em campo. E outro romance contemporâneo, como uma comédia romântica moderna, voltado para um público mais adulto (ou quem sabe young adult).


E com isso, poderia eu dizer que virei escritora, mesmo sem ser autora publicada?

 
 
 

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